voluntária da Elas
10/04/2024
Há 92 anos, as mulheres brasileiras deram o primeiro passo rumo à representatividade feminina na política: elas conquistaram o direito de votar e de serem votadas. Depois de uma longa luta pelo sufrágio, obtiveram seus direitos políticos e tiveram, então, uma entrada tardia na vida política do país.
Atualmente, o público feminino corresponde a cerca de 52% da população brasileira, isto é, as mulheres constituem a maioria do eleitorado do país. No entanto, elas seguem sub-representadas na política. Para se ter uma ideia, o número de mulheres eleitas não passa de 15% do total do eleitorado.
Esse cenário, ainda dominado por uma elite política de homens brancos e ricos no poder, escancara a desigualdade de gênero e de raça existentes nacionalmente.
Mas afinal, por que essa situação é preocupante? Por que é importante que mulheres sejam eleitas?
A democracia é o regime em que o poder emana do povo. Consequentemente, pressupõe a pluralidade de ideias e diversidade, que contribuem para a construção de um debate político mais representativo.
Dessa forma, se as mulheres representam mais da metade do eleitorado brasileiro, elas não deveriam estar mais presentes nos espaços de tomada de decisão?
A representatividade na política é importante, pois possibilita que diferentes grupos sociais tenham representantes eleitos lutando por suas demandas.
Nesse contexto, a participação de mais mulheres na política é fundamental para que elas tenham suas preocupações ouvidas, e para que a luta por direitos, bem como pelo fim da violência, sejam pautadas e discutidas.
Não se trata de status ou de retirar os homens da política. Trata-se de ocupar um espaço que também é nosso por direito. Afinal, o Brasil é um país democrático que propaga em sua Constituição a ideia de que todos são iguais, sem distinção de qualquer natureza.
E, para que a democracia seja realmente representativa no Brasil, precisamos de representatividade de gênero, raça e de todos os grupos que compõem o nosso país, diverso por natureza, sendo representados.
A presença de grupos minoritários é fundamental para que o debate político seja de fato inclusivo, abarcando todas as formas de pensamento, crenças e ideologias presentes em nossa população.
Assim, a participação das mulheres na vida política é vital para o aprimoramento da nossa democracia e de nossas instituições. Elas precisam chegar ao poder para serem inclusas nas tomadas de decisão.
Se pararmos para analisar, quantos pontos de ônibus sem iluminação espalhados pelo Brasil fizeram com que as mulheres decidissem não sair de casa ou pedir um carro de aplicativo? Quantas mulheres se arriscaram atravessando rodovias movimentadas porque as pontes para travessia foram construídas em lugares ermos, tornando-se pontos de risco para mulheres?
Em um país com alto índices de violência de gênero, medidas como essas são ineficientes para mulheres.
Medidas estas que são ineficazes justamente por não considerarem as necessidades femininas, por serem implementadas sem considerar a realidade das mulheres.
A verdade é que, na prática, se o poder público desconsidera as necessidades femininas na implementação de políticas públicas ou no processo legislativo, a possibilidade de que tais projetos falhem é enorme.
Justamente por isso, a presença de mulheres em cargos eletivos é extremamente importante, pois somente uma mulher tem a capacidade de entender e conhecer as dores de outra mulher por completo.
O olhar feminino na formulação e execução de leis e políticas públicas é fundamental para que as nossas necessidades sejam endereçadas e atendidas – para garantir o efetivo funcionamento de leis e políticas públicas.
Além disso, ainda que a presença de mulheres em cargos de tomada de decisão não seja uma garantia de que elas irão debater e propor projetos de interesse feminino (diminuição da violência de gênero, políticas do cuidado, direitos reprodutivos e sexuais, maternidade, etc), é mais provável que elas priorizem tais pautas e lutem por tais direitos, do que um homem na mesma posição.
Somos mais da metade da população sendo representadas por pessoas que jamais sentirão na pele o que é ser mulher. E se nossas vozes não forem ouvidas, seguiremos discutindo questões pautadas por homens – e nunca por nós mesmas.
Portanto, votar em mulheres é oportunizar que lideranças femininas lutem por nossos interesses e adicionem um olhar diferenciado na construção social do país.
Segundo estimativas, no ritmo atual, o Brasil pode levar cerca de 120 anos para atingir a paridade de gênero na política.
O dado comprova a importância de se investir em mulheres na política, para a construção de um país mais democrático, representativo e justo.
E para que essa situação seja contornada, precisamos entender que ao votar em mulheres, não estamos apenas garantindo que as necessidades femininas sejam discutidas, como também um debate político mais qualificado, que de fato represente a diversidade brasileira. Uma questão de democracia e cidadania!
Também é justo dizer que, se as mulheres são a maioria do eleitorado, são elas que detêm o poder de mudar uma eleição. Dessa forma, é preciso que votemos com consciência e cuidado, pois precisamos dar chances – e eleger – àquelas que verdadeiramente nos representem, de uma vez por todas!
No dia 6 de julho, vote em uma mulher!
*Este texto faz parte de uma série de artigos que abordam a importância de se votar em mulheres na política.
Mini Bio: Júlia Coimbra Borges, 27 anos, advogada, mestre em Gênero, Desenvolvimento e Globalização pela LSE e redatora do time de comunicação da Elas no Poder. Apaixonada por música e Beatles, ama tocar violão, cantar e escutar um bom disco.
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