voluntária da Elas
19/06/2024
No final de 2023, durante a COP28 em Dubai, a ONU Mulheres publicou o relatório “Justiça climática feminista: um modelo para ação” (disponível em inglês: aqui).
O relatório mostra como as mudanças climáticas ampliam crises ao redor do mundo, que vão desde a desigualdade econômica até o impasse geopolítico, todas com impactos desproporcionais sobre mulheres e meninas. Ele apresenta uma visão clara de justiça climática feminista, que integra os direitos das mulheres na luta global contra a catástrofe ambiental.
Desigualdades de gênero, assim como outras desigualdades sociais e econômicas, aumentam a vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas. Diversas pesquisas sobre gênero e mudanças climáticas evidenciam que essas desigualdades trazem impactos negativos em várias áreas econômicas e sociais para mulheres, meninas e pessoas de gênero diverso.
Isso é consequência direta das desigualdades de gênero existentes e da negligência das questões de gênero nas políticas ambientais.
O relatório da ONU ressalta que mulheres e meninas são mais suscetíveis aos desastres, tanto nos efeitos imediatos quanto na capacidade de se recuperarem depois, devido às desigualdades de gênero.
Ao redor do mundo, leis, políticas e normas sociais que discriminam com base no gênero resultam em menor acesso das mulheres a renda, financiamento, emprego e recursos produtivos. Isso implica que, em eventos climáticos adversos, as mulheres têm menos capacidade de ajustar seus meios de subsistência, se recuperar e reconstruir seu modo de vida.
As responsabilidades não remuneradas das mulheres com cuidados familiares frequentemente aumentam em situações de mudança e estresse ambiental, à medida que a água, o combustível e os alimentos nutritivos se tornam mais escassos. Além disso, meninas e mulheres, em situações extremas, ficam ainda mais expostas a diversas formas de violência. De acordo com dados da ONU Mulheres, em um cenário pessimista, as mudanças climáticas podem levar até 158 milhões de mulheres e meninas à pobreza até meados do século, 16 milhões a mais do que o total de homens e meninos afetados.
É muito importante uma justiça climática feminista, cuja capacidade reside na superação dos obstáculos ao promover a igualdade de gênero e garantir que todas as pessoas possam desfrutar plenamente dos seus direitos humanos em um planeta saudável e sustentável. Sem isso, a luta contra a crise climática permanece incompleta e injusta.
O relatório decompõe essa visão nos quatro R’s:
“Se levarmos a sério o enfrentamento da crise climática, precisamos começar a ouvir e sentir a dor daqueles que sofrem as consequências já hoje” (Elizabeth Wathuti, ativista ambiental e climática queniana).
Por isso, é cada vez mais urgente o investimento na participação de mulheres na liderança da luta contra as mudanças climáticas, já que as populações mais vulneráveis, como meninas e mulheres, são desproporcionalmente afetadas.
No Rio Grande do Sul, a emergência climática tem mostrado a face cruel das desigualdades. Com eventos climáticos extremos, como enchentes, muitas mulheres estão enfrentando desafios adicionais. Relatos de mulheres expostas à violência e ao estupro em situações de vulnerabilidade são alarmantes.
Essas histórias destacam a necessidade urgente de uma abordagem de justiça climática que proteja e empodere mulheres e meninas, garantindo que tenham os recursos e o suporte necessários para se recuperar e reconstruir suas vidas.
Para enfrentar a emergência climática de maneira eficaz, é essencial adotar uma perspectiva feminista, que reconheça e aborde as desigualdades de gênero. Somente assim será possível criar um futuro sustentável e justo para todos e todas.
Sobre a autora: Gabriela Beltrão, voluntária dos times de Articulação política e de Projetos. Cientista Política com Especialização em Assessoria Política e Políticas Públicas, se interessa por gênero e meio ambiente. Busca contribuir na construção de uma sociedade mais justa e sustentável.
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