voluntária da Elas
19/08/2024
O Comitê Olímpico Internacional (COI) buscou a paridade de gênero nas Olimpíadas de Paris 2024, marcando um momento histórico para a inclusão feminina no esporte. Embora esse resultado não tenha sido 100% atingido, a edição contou com a participação de 51% de homens e 49% de mulheres, representando um avanço em direção à equidade de gênero.
Criados na Grécia Antiga, os Jogos Olímpicos eram exclusivamente masculinos. A participação feminina na era moderna das Olimpíadas, iniciada em Atenas em 1896, foi inicialmente limitada. Somente em 1900 as mulheres puderam competir, mas em modalidades restritas como golfe e tênis.
A conquista da participação feminina em todas as categorias e a garantia de pelo menos uma mulher em cada delegação só se concretizou em 2012, em Londres. Após anos de luta, a paridade de gênero finalmente se tornou um objetivo do Comitê Olímpico Internacional, em busca de uma competição mais justa e equilibrada.
O Brasil vive um momento de grande destaque no esporte feminino, com mulheres protagonistas em diversas modalidades. Maria Lenk, a primeira brasileira a competir nas Olimpíadas em 1932, foi a responsável por abrir o caminho para a participação feminina no país.
As primeiras medalhas olímpicas femininas vieram em 1996, no vôlei de praia e no basquete. Atualmente, a delegação brasileira conta com 153 mulheres entre 277 atletas, sendo o único país, ao lado da Espanha, com uma delegação de maioria feminina.
As Olimpíadas de Paris 2024 destacaram a força da mulher brasileira. As mulheres do país empilharam recordes nesta edição, como a delegação maior do que a masculina, mais medalhas conquistadas em comparação aos homens e, vale ressaltar que todas as medalhas de ouro do Brasil nos Jogos vieram de atletas mulheres.
Nomes como Beatriz Souza (judô), Duda e Ana Patrícia (vôlei de praia), Tatiana Weston-Webb (surfe), Beatriz Ferreira (boxe), Larissa Pimenta (judô), Rayssa Leal (skate), a equipe de ginástica (Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Flávia Saraiva, Júlia Soares e Lorrane Oliveira) e a Seleção Brasileira (futebol) desempenharam um marco histórico na história das Olimpíadas com 12 medalhas conquistadas.
Apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam grandes desafios no mundo do esporte, que dificultam ou impedem seu progresso na carreira. Esses obstáculos incluem a escassez de patrocínios e recursos financeiros, a pressão social, a desigualdade de gênero e o assédio. A seguir detalho cada um desses pontos.
Falta de recursos: A falta de patrocínios e recursos financeiros limita o acesso a treinamento e equipamentos de qualidade, além de dificultar a participação em competições de alto nível. Uma pesquisa recente do Instituto de Pesquisa DataSenado, realizada com 22 atletas de diversas modalidades, revelou que esses desafios são frequentemente a razão para que abandonem os esportes.
Pressão social e gravidez: As atletas relatam pressão para retardar o casamento e a gravidez. A gravidez, por sua vez, cria um problema específico relacionado ao Bolsa Atleta, programa de auxílio financeiro do Governo Federal. A interrupção dos treinos durante a gravidez pode levar à descontinuidade da Bolsa Atleta, já que a atleta precisa comprovar que segue treinando e em condições de competir.
Desigualdade de gênero: As atletas também relatam desconhecimento sobre as questões de saúde feminina por parte dos profissionais da área. Apenas 6% dos dados de ciência do esporte são focados em mulheres, o que demonstra a falta de investimento em pesquisas específicas para o público feminino.
Falta de reconhecimento e infraestrutura: As modalidades femininas de esportes predominantemente masculinos, como o futebol, sofrem com a falta de reconhecimento e infraestrutura adequada. As atletas são menosprezadas pelos clubes e pelo público, o que dificulta a busca por patrocínios e leva à desigualdade na infraestrutura de treinos.
Assédio: Assédio moral e sexual é um problema recorrente na rotina das atletas, com mecanismos de denúncia ineficazes ou inexistentes.
Essas dificuldades enfrentadas pelas atletas revelam a necessidade da incorporação da perspectiva de gênero nos esportes, de forma a garantir igualdade de oportunidades e bem-estar para as mulheres.
As Olimpíadas foram palco de conquistas extraordinárias para as mulheres, que quebraram recordes e conquistaram medalhas inéditas. No entanto, o caminho até o pódio ainda é repleto de desafios. Investir no esporte feminino é crucial para garantir que mais mulheres ocupem esse espaço, e de maneira competitiva.
A educação de base desempenha um papel fundamental na promoção da igualdade, pois é responsável por despertar o interesse das meninas pelas modalidades esportivas desde cedo. Promover debates sobre gênero e sexismo também é essencial para combater a discriminação e criar um ambiente mais inclusivo.
Políticas públicas eficazes, como incentivos fiscais para patrocinadores, políticas de maternidade para atletas e mecanismos eficientes de denúncia de assédio e abuso sexual, também são medidas extremamente necessárias.
Fortalecer programas sociais para jovens atletas e capacitar profissionais de saúde na área esportiva são ações complementares, que garantem o desenvolvimento integral das atletas.
Empoderar as mulheres no esporte significa abrir portas para que elas atuem com todo seu potencial. Afinal, talvez a nossa próxima estrela olímpica só esteja à espera de uma oportunidade para brilhar!
Sobre a autora: Júlia Coimbra Borges, 28 anos, advogada, mestre em Gênero, Desenvolvimento e Globalização pela LSE e voluntária do time de Gestão de Projetos e Captação de recursos da Elas no Poder. Apaixonada por música e Beatles, ama tocar violão, cantar e escutar um bom disco.
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