voluntária da Elas
31/10/2024
A inteligência artificial (IA), antes confinada aos laboratórios de pesquisa, já molda como interagimos e está transformando radicalmente a sociedade contemporânea, alterando como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos.
A política, como reflexo dessas mudanças, também está sendo profundamente impactada, tendo em vista que por meio da IA é possível coletar vastos volumes de dados sobre as preferências e comportamentos dos cidadãos, possibilitando que campanhas políticas identifiquem, personalizem e direcionem mensagens para indivíduos com perfis específicos, influenciando suas decisões de voto.
No entanto, esse poder traz consigo a necessidade urgente de garantir o uso ético dessas tecnologias e proteger a privacidade dos cidadãos.
Embora o uso da IA nas campanhas eleitorais seja atraente pela possibilidade de uma maior eficiência e personalização, ela também levanta sérias preocupações éticas e financeiras. O uso indiscriminado dessa tecnologia pode levar a uma polarização da sociedade, à disseminação de desinformação, à manipulação da opinião pública, à criação de bolhas de filtro. Além disso, o alto custo dessas tecnologias pode concentrar o poder nas mãos de poucos, minando a democracia e ampliando a desigualdade digital.
Pessoas com menor poder aquisitivo ou menor acesso à internet podem ser alvo de campanhas de desinformação e manipulação, uma vez que possuem menos recursos para verificar a veracidade das informações e identificar estratégias de manipulação. É preciso encontrar um equilíbrio entre os benefícios e os riscos da inteligência artificial garantindo que a tecnologia seja utilizada para fortalecer a democracia e não para miná-la.
É fundamental que a sua utilização na política seja acompanhada de um debate público sobre seus impactos e desafios. A transparência nos processos de coleta e utilização de dados, bem como a garantia da privacidade dos cidadãos, são pilares essenciais para a construção e o fortalecimento de uma democracia robusta e equitativa na era digital.
A recente campanha presidencial dos Estados Unidos, por exemplo, demonstra o potencial da inteligência artificial para microsegmentar o eleitorado e personalizar mensagens de forma inimaginável até então. No Brasil, durante as eleições presidenciais de 2022, houve um aumento significativo na produção de disseminação de deepfakes e outras formas de desinformação. Diversos vídeos falsos foram criados e compartilhados nas redes sociais, visando influenciar a opinião pública.
Em 2024, com a proximidade das eleições municipais, um novo alerta se acendeu sobre a desinformação e a propagação de notícias falsas. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Data Senado, 81% dos brasileiros acham que as notícias falsas podem afetar significativamente o resultado eleitoral. Conforme o levantamento, 72% dos brasileiros já se depararam com notícias falsas nas redes sociais nos últimos meses.
Para mitigar a situação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem se mostrado atento aos desafios e oportunidades que a inteligência artificial traz para o processo eleitoral, buscando equilibrar a inovação com a garantia da integridade do pleito. As novas normas do TSE representam um avanço significativo na mitigação dos riscos da inteligência artificial e na maximização de seus benefícios, ao proibir a criação e divulgação de deepfakes, exigir a identificação de conteúdo gerado por inteligência artificial e responsabilizar as plataformas digitais pela remoção de informações falsas.
A regulamentação do TSE representa um avanço significativo na mitigação dos riscos da inteligência artificial e na maximização de seus benefícios. Contudo, a evolução constante da IA demanda um acompanhamento contínuo e a adaptação das leis.
É crucial fomentar campanhas que despertem a criticidade da população, ajudando-a a distinguir o que é real ou não no mundo digital. Ao entender como a inteligência artificial influencia nossas vidas online, os cidadãos podem participar ativamente das decisões que moldam a sociedade. A educação digital, que inclui o letramento digital e o desenvolvimento do pensamento crítico, é fundamental para fortalecer a democracia e combater a desinformação.
É preciso que governos, empresas de tecnologia e instituições educacionais trabalhem em conjunto para desenvolver programas que preparem tanto crianças quanto adultos para os desafios e oportunidades da era digital. A transparência e a ética no desenvolvimento e uso da IA são essenciais para garantir que essa tecnologia seja utilizada para o bem comum.
Os engenheiros do Caos – Como as Fakes News, as Teorias da Conspiração e os Algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições, do autor Guililano Da Empoli. Editora, Vestígio, 2019.
A Máquina do Caos – como as redes sociais reprogramaram nossa mente e nosso mundo, do autor Max Fisher. Editora, todavia,2024.
Sobre a autora: Vanessa Camila é voluntária de comunicação na ONG Elas no Poder, jornalista formada pela PUC-MG e Mestre em Estudos de Linguagens pelo Cefet-MG. Atuando como mentora cultural, ela acredita no poder transformador da leitura.
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