Cinco motivos para indicar uma mulher à política

Nayara Machado

voluntária da Elas

19/03/2022

A #ElasNoPoder lançou uma campanha para atrair e encorajar a participação de mais mulheres na política.

Como o nome já sugere, a Indique Uma Mulher é um convite à sociedade para observar as mulheres à sua volta e indicá-las para assumirem posições de liderança na política, especialmente nas eleições de 2022.

Qualquer pessoa pode indicar. Conhece uma mulher que deveria estar formulando políticas públicas e defendendo nossos interesses? É só entrar no site e escrever o nome e as características da candidata. 

A Elas vai enviar uma carta convite para que essa pessoa considere se candidatar. As indicadas terão acesso à nossa comunidade virtual para troca de experiências com outras indicadas em todo o Brasil. E poderão participar dos nossos encontros virtuais com mulheres eleitas, que vão falar sobre suas experiências na política.

Tá, mas por que indicar uma mulher à política?

Os motivos são muitos. Mas vou listar cinco que já justificam maior diversidade e representatividade no Executivo e Legislativo.

Lideranças políticas femininas têm impacto crucial nos resultados sociais e econômicos

Uma prova clara disso veio das estratégias para lidar com a pandemia de Covid-19. Um estudo publicado pelo Jornal of Economic Development mostra que, no Brasil, cidades que elegeram prefeitas mulheres tiveram desempenho melhor na contenção da primeira onda da pandemia do que as que elegeram prefeitos homens.

Pelo mundo, não foi diferente. Os países liderados por mulheres também se destacam no combate à pandemia.

A primeira-ministra da Islândia, Katrín Jakobsdóttir, apostou logo cedo em testar massivamente sua população.

Já em Taiwan, que oficialmente faz parte da China, mas, na prática, funciona como um país soberano, a presidente Tsai Ing-wen criou imediatamente um centro de controle de epidemias e tomou medidas para rastrear infecções.

Enquanto isso, na Nova Zelândia, a primeira-ministra, Jacinda Ardern, impôs uma série de medidas quando as mortes no país por covid-19 eram apenas seis.

Ao invés de trabalhar para “achatar a curva” dos casos, como muitos países estavam buscando fazer, a abordagem de Ardern foi para eliminar a curva.

Mulheres são mais instruídas

Dados do Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que em 2019, 19,4% da população feminina com 25 anos ou mais já tinha concluído o ensino superior, contra uma fatia de 15,1% entre os homens.

Entre a população com 25 anos ou mais de idade, 40,4% dos homens não tinham instrução ou não concluíram o ensino fundamental. Essa proporção foi menor entre as mulheres, 37,1%.

A única faixa etária com mais homens com ensino superior do que mulheres é acima de 65 anos – um reflexo da dificuldade da inserção do acesso feminino a instituições de curso superior décadas atrás.

Entretanto, uma pesquisa do Conselho Nacional de Secretários da Administração (Consad), mostra que apenas 14% das mulheres ocupam cargos de liderança na esfera pública – um dado contraditório, já que mulheres possuem a maior porcentagem de ensino superior, quando comparadas aos homens.

É preciso combater o machismo estrutural na política

Casos recentes como o do deputado Arthur do Val (Mamãe Falei) ou a emblemática frase de Jair Bolsonaro durante celebração do Dia Internacional da Mulher, de que estamos “praticamente integradas à sociedade” dizem muito sobre o quanto precisamos de mais líderes mulheres capazes de representar a outra metade da população.

Lembremos também de toda violência misógina que a ex-presidenta Dilma Rousseff sofreu durante o processo de impeachment, e tantas outras que assistimos quase diariamente dentro dos espaços de poder.

Se as mulheres não são respeitadas nesses espaços, de alta visibilidade, o que esperar dos espaços invisíveis?

São as mulheres que vão mudar as leis dos homens

Pesquisa do OLB (Observatório do Legislativo Brasileiro), aponta que em 2020, os deputados aprovaram 31% mais projetos que as colegas — de cada mil propostas apresentadas, eles emplacaram 21 e as deputadas, 16. 

Em 2021, essa desigualdade chegou a 100% de diferença. A cada mil projetos, os homens aprovaram seis. Enquanto as mulheres, três. O motivo: eles são maioria e uma estrutura que exclui e silencia mulheres cria ainda mais barreiras para que elas consigam avançar com suas propostas.

Isso sem falar em leis que nos prejudicam ou pautas que são engavetadas sob a justificativa de que “não são tão urgentes” e por aí vai. Quem nunca ouviu a frase “essa é uma questão feminina, tem coisa mais urgente pra resolver antes”.

O irônico é que quando é para retirar direito, aí a “pauta feminina” se torna urgente de novo.

O Brasil está entre os países com a pior representatividade de mulheres na política

A Câmara dos Deputados possui apenas 15% de mulheres e o Senado Federal 12%. De 27 lideranças partidárias na Câmara, duas são mulheres. No senado não é muito diferente, dos 13 bancos de liderança, somente três são ocupados por mulheres.

Em junho do ano passado, passamos a ocupar a 140ª posição do ranking da União Interparlamentar que avalia a participação política de mulheres em 192 países. Estamos atrás de todas as nações da América Latina, com exceção do Paraguai e do Haiti.

O ano de 2022 precisa ser o ano da mudança e essa mudança começa agora. O prazo final de filiação partidária vai até dia 1º de abril. Quer ver essa mudança acontecer? Indique uma mulher.

 

Texto de Nayara Machado. Nayara é do time de newsletters da #Elasnopoder. Jornalista da área de energia. também é voluntária no Olhares Podcast. Gosta de plantas, gatos, café forte sem açúcar e pimenta até na sobremesa.

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Dalva Regina Stefani Bezerra 27 de março de 2022 Parabéns por essa iniciativa, muito necessária, principalmente no atual cenário nacional.
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