Mulheres não eleitas: a experiência de Dara Sant’Anna

Maria Eduarda de Oliveira

voluntária da Elas

03/03/2023

Conhecer a experiência de mulheres que se candidataram aos cargos políticos, e que não foram eleitas, é fundamental para que possamos compreender quais são os principais desafios enfrentados por elas a partir de suas perspectivas pessoais. 

Nesse texto, iremos entrevistar a candidata ao cargo de deputada estadual pelo PT-RJ em 2022, Dara Sant’Anna

No ano passado, publicamos um artigo semelhante com a candidata pelo PSB-DF Thaynara Melo. Convidamos você para conhecer a experiência eleitoral de ambas as mulheres que se candidataram no último ano. 

Quem é Dara Sant’Anna

Nascida em uma ocupação urbana e tendo contato desde cedo com as lutas sindicais e de movimentos sociais, Dara é engajada nas lutas feministas e antirracistas, sendo ativa na militância da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e no Movimento Negr o Unificado (MNU)

Dara foi estudante de direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde foi eleita para a diretoria de Combate ao Racismo da União Nacional dos Estudantes (UNE) e Conselheira Nacional de Promoção da Igualdade Racial. 

Foi candidata ao cargo de deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT) do Rio de Janeiro, recebendo um total de 6967 votos nas eleições de 2022.

A experiência ao se candidatar em 2022

A primeira pergunta direcionada a Dara foi com relação a sua experiência ao se candidatar no ano de 2022. 

Ela aponta que: “Foi uma experiência enriquecedora, aprendi muito sobre mim e tive a oportunidade de conhecer pessoas e projetos incríveis. 

A possibilidade de dialogar com as pessoas sobre o que nós acreditamos sobre política, transformação social e possibilidade de mudar nossas vidas para melhor e poder ver refletido nas urnas quantas pessoas acreditam em mim e nesse projeto de sociedade mais justa é algo muito forte.”

Também a questionamos acerca dos desafios enfrentados no processo eleitoral. Ela os define em diferentes tipos: 

  • A dificuldade em dar rosto ao trabalho de muita gente, e o seu papel como figura pública;
  • O acesso ao recurso de financiamento de campanha, que segundo ela, só foi liberado 20 dias após o início do período eleitoral;
  • A precariedade com relação a qualidade de vida no período de campanha em que estava sem acesso aos recursos de financiamento, uma vez que ela precisou desembolsar valores próprios para o trabalho, afetando diretamente a qualidade da sua locomoção e alimentação;

“Aceitar as coisas que não posso mudar, mudar as coisas que não posso aceitar”

Questionada sobre a saúde emocional durante o período eleitoral, Dara revelou que se surpreendeu consigo mesma, pois apesar de possuir transtorno de ansiedade, não sofreu com nenhuma crise durante a campanha. 

Ela destaca que “Eu tomei uma decisão no início de 2022 de que para seguir com a pré-candidatura eu teria que levar com tranquilidade as dificuldades e os problemas que surgissem […]”. 

Da mesma forma que Thaynara apontou o papel de uma rede de apoio no processo da candidatura, Dara também destacou o papel desta rede, porém com uma ressalva sobre a questão da solidão: “Eu tive uma boa rede de apoio, o que não impediu com que eu me sentisse extremamente solitária em diversos momentos […]”. 

Reconhecer que estava dando o seu melhor também foi uma forma de lidar com o estresse e poder seguir firme na campanha “[…] eu passei a repetir um mantra que me auxiliou muito ‘Aceitar as coisas que não posso mudar, mudar as coisas que não posso aceitar’ e a certeza de que eu estava dando o meu melhor sem me desrespeitar ou violentar, o que não quer dizer que eu não tenha tido bolhas nos pés ou dores nas costas e mãos as quais eu ainda estou tentando recuperar. Mas repetir o mantra e entender que eu estava dando o meu melhor fizeram com que os desafios que vieram fossem encarados com leveza.”

O pós-eleição de uma mulher não eleita

Dara afirma que ainda está processando o pós-eleição. Diz ser uma mudança brusca entre passar 16 horas por dia panfletando e com uma agenda corrida para poder dormir oito horas por noite e ter dias livres. 

Ela ainda não sabe dizer se irá se candidatar no próximo ano “Eu não sei se pretendo me candidatar na próxima eleição, mas eu sei que hoje tenho 6967 pessoas dispostas a mudar o mundo junto comigo. É um peso, mas ao mesmo tempo é pensar o que podemos fazer juntos para além de uma eleição. Eu acredito que a disputa eleitoral é um meio e não o fim […]”.

Apoiar candidaturas como a da Dara é possibilitar transformações na política e na vida das mulheres.  

 

Maria Eduarda de Oliveira Alves, voluntária na #ElasnoPoder e graduanda em Ciências Sociais pela USP.

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