voluntária da Elas
08/12/2024
A relação entre democracia e direitos das mulheres é profunda e se retroalimenta. A democracia, sendo o governo do povo, deve sempre representar sua diversidade. Dessa forma, deve incluir as mulheres, garantindo que tenham voz e ocupem espaços de poder. A participação política das mulheres é, portanto, um dos grandes motes dessa relação.
Ademais, a democracia possibilita o debate e a evolução dos direitos das mulheres. Contudo, também comporta uma diversidade de ideias, nem sempre favoráveis à evolução dos interesses femininos. Isso significa que, mesmo dentro de uma democracia, os direitos das mulheres estão constantemente em risco, especialmente quando governos autoritários ascendem ao poder.
Por isso, a presença das mulheres na política torna-se ainda mais crucial para garantir que essas conquistas sejam preservadas e ampliadas.
A conquista dos direitos das mulheres é fruto de séculos de luta feminina. Na Antiguidade, as mulheres não eram consideradas cidadãs e não tinham participação ativa na construção política da sociedade. A situação só começou a mudar com a Revolução Francesa (1789) e os movimentos feministas, que passaram a lutar por essas garantias. No entanto, foi apenas com a criação da ONU (1945) que os direitos das mulheres foram garantidos de forma universal, através da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
No Brasil, a Constituição Federal é o principal instrumento jurídico de defesa dos direitos das mulheres. A Constituição garantiu a igualdade entre homens e mulheres, a observância dos direitos sexuais e reprodutivos, a não discriminação por sexo, e a ampliação dos direitos civis, sociais e econômicos, entre outros. Esses direitos foram incorporados à CF após a brilhante atuação do chamado “Lobby do Batom”, um movimento de mulheres que lutou pela ampliação dos direitos femininos no Brasil.
Atualmente, as mulheres também são protegidas por legislações como a CLT, a Lei de Igualdade Salarial, a Lei de Cotas Eleitorais, a tipificação de crimes como o feminicídio, além da mais famosa lei de proteção contra a violência doméstica, a Lei Maria da Penha.
Uma das principais intersecções entre democracia e direitos das mulheres está na participação feminina na política. A afirmação “não há democracia sem mulheres”, defendida por inúmeros especialistas, confirma a importância da presença feminina nos espaços políticos de poder, para o real funcionamento do Estado Democrático de Direito e para a construção de uma sociedade mais justa.
A inclusão das mulheres na política não é apenas uma questão de representatividade; é essencial para moldar políticas públicas que garantam direitos e visibilidade aos anseios femininos.
No Brasil, as mulheres representam cerca de 52% da população. Apesar disso, o país elege pouquíssimas mulheres para cargos políticos. Mesmo com a existência da lei de cotas eleitorais, a sub-representação feminina nos cargos de poder permanece um desafio.
Essa situação nos leva a refletir: considerando que historicamente foram as mulheres que lutaram e conquistaram seus próprios direitos, como podemos garantir que esses direitos continuem avançando se elas não ocuparem mais espaços de poder?
As violações aos direitos das mulheres e a violência baseada em gênero continuam a crescer em todo o mundo. Os direitos das mulheres também enfrentam resistência de setores conservadores, que rejeitam mudanças no status quo. Os direitos sexuais e reprodutivos, por exemplo, são alvos constantes de críticas e até mesmo de retrocessos, como aconteceu recentemente nos Estados Unidos, onde o direito constitucional ao aborto foi revertido pela Suprema Corte.
Quando se fala da intersecção entre gênero e sexualidade, encontramos ainda mais resistência. O Brasil, por exemplo, segue liderando há 15 anos o ranking de violência contra pessoas trans, um reflexo das estruturas conservadoras que rejeitam as discussões sobre identidade de gênero.
Toda essa situação se agrava quando a alternância de poder, própria da democracia, leva líderes autoritários e que flertam com ideias extremistas ao poder. Em tempos de autoritarismo, os direitos das mulheres se tornam alvos frequentes de ataques, ficando sempre em risco.
A luta das mulheres está no centro do debate democrático. Não apenas porque foram elas que lutaram por seus direitos, mas também porque a sua participação no debate político é essencial para a manutenção e vigilância dessas garantias.
Em um mundo polarizado, com o autoritarismo em ascensão, os direitos das mulheres são alvos constantes de retrocessos. Ainda que o Brasil tenha uma constituição progressista, as estruturas de poder continuam a marginalizar as mulheres na política, reforçando desigualdades de gênero existentes no país.
Por isso, é necessário que estejamos vigilantes. Segundo a ONU, ao ritmo atual, levaríamos 300 anos para alcançar a igualdade de gênero. Contudo, se continuarmos promovendo políticas públicas mais justas e inclusivas e a ascensão de mais mulheres ao poder, aliada a um diálogo mais pacífico e tolerante, podemos acelerar esse processo e garantir que nossos direitos avancem, em vez de retrocederem. Assim, o longo caminho até a igualdade ainda pode se encurtar.
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