Mulheres e imigração: desafios além das fronteiras

Maria Eduarda de Oliveira

voluntária da Elas

07/07/2023

A imigração é um fenômeno que não é recente na história mundial; no entanto, o número de mulheres que necessitam deixar o seu país de origem para reconstruir a vida em outra localidade aumentou desde o início do século XXI. 

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o número de mulheres imigrantes em todo o mundo gira em torno de 117 milhões, sendo elas a maioria entre os imigrantes nos continentes americano, europeu e na Oceania

Nesse artigo, abordaremos as razões pelas quais as mulheres imigram, os desafios enfrentados por elas, a questão da interseccionalidade na imigração, apresentaremos alguns dados sobre a imigração no Brasil e faremos uma recomendação de romance essencial para aqueles que desejam refletir mais sobre a situação migratória das mulheres.

Por que mulheres imigram? 

Os fatores que levam as mulheres a imigrarem são diversos. Entre eles, destacam-se:

  • Busca de trabalho e renda, com ênfase em contribuir com o sustento familiar e pessoal;
  • Melhores condições de vida no país de destino;
  • Perseguições ideológicas e culturais no país de origem, capazes de colocar suas vidas em risco;
  • Desastres ambientais causados por fenômenos naturais (confira aqui um artigo que aborda a questão de gênero e mudanças climáticas);
  • Busca de reunificação familiar no país de destino;
  • Instabilidade e conflitos na política do país de origem.

Gênero, raça e imigração: desafios interseccionais

Quando pensamos em mulheres imigrantes, é importante considerar a interseção de diferentes aspectos que se relacionam e, consequentemente, determinam o seu lugar na sociedade, bem como as opressões vivenciadas. 

Por serem mulheres, o gênero por si só já é determinante para as opressões machistas que as cercam, como a discriminação no mercado de trabalho e diversas formas de violência (física, sexual e psicológica).

Apesar de as mulheres compartilharem o fator de gênero, em um país historicamente racista como o Brasil, a experiência migratória de uma imigrante negra será diferente da de uma imigrante branca, por exemplo. Isso ocorre porque a questão racial em nosso país é um fator determinante para definir como as imigrantes serão acolhidas e a quais oportunidades terão acesso. 

Além disso, outros fatores, como o desemprego, deficiência, identidade LGBTQIAP+, habilidades no idioma local, país de origem e cultura de origem, entre outros, também podem interagir entre si e determinar o grau de discriminação enfrentada. 

Portanto, ao considerar a questão migratória, é fundamental analisar os diversos fatores que, além da imigração em si, determinam quais outros tipos de preconceitos a mulher imigrante está sujeita a sofrer no país de destino.

Dados sobre as mulheres imigrantes e em situação de refúgio no Brasil

Segundo dados da OBMigra, entre os anos de 2010 e 2019, 268.674 mulheres foram registradas no Brasil como residentes/imigrantes de longo tempo.

Conforme apontado por Macedo e Tonhati (2020), houve um aumento significativo no final da década no número de mulheres vindas da Venezuela e do Haiti, especialmente nos anos de 2018 e 2019, que foram reconhecidos como os anos em que mais mulheres imigraram para o país (totalizando 103.488).

No que diz respeito às mulheres em situação de refúgio, observa-se um aumento de 89,5% nas solicitações de refúgio feitas por mulheres no país entre 2016 e 2019, com destaque para as mulheres venezuelanas, haitianas e cubanas, que representam o maior número de solicitações (MACEDO E TONHATI, p.135, 2020).

Durante o período considerado, percebe-se que a maioria das mulheres imigrantes registradas tinha entre 15 e 40 anos (67%) e eram solteiras (69%). Também houve um aumento na emissão de carteiras de trabalho para mulheres imigrantes ao longo da década, saltando de 3.722 em 2011 para 39.813 em 2019. 

Conforme a análise de Macedo e Tonhati (2020), esse aumento nas emissões de carteiras profissionais ocorreu principalmente entre imigrantes de origem caribenha (Haiti e Venezuela), evidenciando um deslocamento migratório em busca de oportunidades de trabalho.

A principal porta de entrada no Brasil para essas mulheres passou por mudanças ao longo da década. Em 2010, os registros eram predominantemente realizados no estado de São Paulo. No entanto, em 2019, além do estado de São Paulo, houve um número significativo de registros na região norte do país, com destaque para os estados de Roraima e Amazonas (MACEDO E TONHATI, p.132, 2020).

Americanah: a história de uma mulher imigrante nos Estados Unidos

Nesse romance de 2013, Chimamanda Ngozi apresenta a história de Ifemelu, uma jovem nigeriana que embarca em uma jornada migratória para os Estados Unidos. Ao longo do livro, somos confrontados com os desafios de classe e gênero enfrentados por Ifemelu na Nigéria. 

No entanto, quando ela imigra para os Estados Unidos, a protagonista se depara com obstáculos totalmente novos: a condição de mulher imigrante e a sua descoberta pessoal como uma mulher negra, percebida através do racismo por parte da população norte-americana.

A autora consegue descrever com precisão e envolver o leitor nos sentimentos, emoções, ambições e temores da jovem Ifemelu. Além disso, propõe uma reflexão profunda sobre a situação migratória das mulheres negras não americanas que buscam, em um novo país, oportunidades dignas de vida, mas frequentemente se deparam com portas fechadas.

Americanah é muito mais do que uma história sobre os desafios da imigração. É também uma obra que aborda o amor, a saudade, a amizade, a ancestralidade e as inspirações que permeiam a vida de seus personagens.

 

Referências

TONHATI, Tânia, MACEDO, Marília (2020). “Imigração de mulheres no Brasil:

movimentações, registros e inserção no mercado de trabalho formal (2010-

2019)”. PÉRIPLOS, Revista de Pesquisa sobre Migrações. Volume 4 – Número 2, 1.125-155

 

OMS, Carolina. “Mulheres imigrantes:os desafios de recomeçar a vida em outro país”. Revista Azmina, 2019. 

 

Maria Eduarda é estudante de ciências sociais e voluntária na Elas No Poder.

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