Golpes em aplicativos de transporte e a vulnerabilidade feminina: nós sempre somos o alvo

Carina Lima

voluntária da Elas

16/06/2022

Casos de golpes em aplicativos de transporte viralizam de tempos em tempos na internet.

O mais recente, conhecido como “golpe do cheiro”, relatava uma tentativa de dopar as vítimas com algum produto químico liberado pelo motorista durante o trajeto.

Sem muita surpresa, é fácil identificarmos o que havia de comum entre os relatos: as vítimas eram sempre mulheres.

Aplicativos de transporte e a vulnerabilidade feminina

Uma pesquisa recente dos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva revelou que 97% das brasileiras com mais de 18 anos já passaram por alguma situação de agressão, física ou moral, em transporte público, por aplicativos de transporte ou em táxis.

Dados das secretarias estaduais de segurança pública e obtidos pelo The Intercept mostram que, entre janeiro de 2016 e julho de 2018, ocorreram 46 estupros em corridas por aplicativos de transporte e táxis*. 

Infelizmente o medo e a sensação de vulnerabilidade não são exclusivos das passageiras.

Dados do setor indicam que o índice de motoristas mulheres chega a 15% e 20%, e elas sofrem com casos de violência e tentativas de golpe diariamente, como podemos conferir nesse relato de três delas.

A pergunta que fica é: Que tipo de poder os homens têm para se sentirem no direito de assediá-las?

 

Para Daniela Pedroso, psicóloga do serviço de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, uma das referências brasileiras na saúde da mulher, a resposta está diretamente ligada à cultura do estupro.

Alguns homens acreditam que têm o direito sobre o corpo das mulheres. Que podem praticar diversas formas de assédio sexual, e até mesmo uma tentativa de estupro, por imaginarem que não haverá justiça, que nada vai acontecer.”

Como se prevenir e aumentar a segurança durante as corridas em aplicativos de transporte

Enquanto lidamos com a possibilidade de ser a próxima vítima de algum golpe ou assédio, confira algumas dicas para aumentar sua segurança em carros de aplicativo:

  • Confira os dados: antes de entrar no carro, confirme modelo, placa e nome/fisionomia do motorista. Nunca fale seu nome antes do motorista, e se notar alguma incoerência entre os dados, não entre no carro. 
  • Sente-se no banco traseiro: o banco da frente te deixa em uma posição mais vulnerável. Sente atrás, no lado oposto ao do motorista. Se, por acaso, ele tiver a intenção de imobilizar ou lhe aplicar algum golpe, ele terá bem mais trabalho para isso, te dando a chance de abrir a porta e sair do carro para buscar ajuda. 
  • Verifique se o motorista está usando o aplicativo: observe se o motorista está seguindo a rota proposta pelo aplicativo ou fazendo algum caminho alternativo. De preferência acompanhe também pelo GPS do seu celular. 
  • Compartilhe sua corrida: Sempre compartilhe sua corrida com alguém de confiança que possa acompanhar seu trajeto até chegar em seu destino. 
  • Se notar algo estranho, desça imediatamente: Se, durante a viagem, você começar a notar que o motorista está puxando uma conversa desconfortável, ou lança olhares fixos através do retrovisor em sua direção, ou ainda se tem algum comportamento suspeito, peça para parar no primeiro local onde haja alguma concentração de pessoas. Na dúvida, é melhor não arriscar pelo excesso de confiança.
  • Denuncie: Se infelizmente algo acontecer, denuncie! Tanto na delegacia quanto para o aplicativo responsável. 

A importância de denunciar

Estatísticas apontam que 52% das mulheres que passaram por alguma violência ou agressão decidem não denunciar.

Os sentimentos de culpa e de vergonha são comuns entre as vítimas de violência sexual, ambos fortalecidos pela cultura do estupro.

Um dado que torna ainda mais difícil penalizar os responsáveis, por isso é sempre bom lembrar: a culpa nunca é da vítima.

Por isso, se algo acontecer durante corridas em aplicativos de transporte, denuncie!

*As informações são relativas a localidades na Bahia, no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul, em Pernambuco, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Texto de Carina Lima, especialista em marketing e comunicação. Colaboradora do blog da #Elasnopoder. Feminista de nascença, sonha em dar a volta ao mundo.

De 1 a 10, quanto você recomendaria esse conteúdo?

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Enviando avaliação...

Comentários (2)

Escreva um comentário

Marcella 28 de junho de 2022 Muito triste viver isso diariamente!
Keyce 23 de junho de 2022 Assunto muito importante, e que infelizmente muito acontece.
Mostrar todos