voluntária da Elas
30/09/2021
É fato que as mulheres (e demais minorias) são sub-representadas na política – não apenas no Brasil, mas em boa parte do mundo. Só 24% das cadeiras nos parlamentos ao redor do planeta são ocupadas por mulheres. Na realidade brasileira, elas representam apenas 13% entre os ocupantes de cargos eletivos.
São muitos os desafios a serem enfrentados pelas mulheres no mundo público, como a divisão desigual do trabalho doméstico, o assédio e a violência política, a desigualdade do sistema político-partidário, e o acesso reduzido a recursos para financiamento de campanha. Ainda há um longo caminho a ser percorrido rumo à igualdade de gênero, mas alguns frutos já são colhidos agora com a efetiva participação feminina na política.
A presença de mulheres em espaços de poder incentiva a quebra de estereótipos de gênero, expandindo os horizontes das novas gerações sobre o que é ”coisa de mulher”. Segundo Hanna Pitkin, representar significa tornar presente algo que não está literalmente ali. Por isso, é importante que meninas e mulheres se vejam em ambientes da política institucional.
Há críticas válidas em relação a essa representação política de presença, uma vez que o aumento da quantidade de mulheres no parlamento não significa que elas vão, necessariamente, defender um chamado “interesse feminino”. Afinal, a categoria “mulheres” não é homogênea. Porém, há uma retroalimentação entre as desigualdades sociais e as desigualdades na política. E além da importância da representatividade já apontada (e abordada nesse texto do blog), a diversidade nos espaços de poder cria condições para que assuntos relevantes sobre direitos das mulheres (e demais minorias) ganhem visibilidade. É importante enxergar a igualdade de gênero na política como um ponto de partida, e não de chegada.
A participação feminina incentiva novos modos de fazer política. Já há diversos levantamentos que indicam que a participação de mulheres no governo tem impacto positivo na democracia, reduzindo índices de corrupção. No contexto de pandemia da Covid-19, governos liderados por mulheres também têm apresentado uma resposta mais eficaz na retomada da economia e combate à crise.
Não há um “estilo de liderança feminino” determinado geneticamente, até mesmo porque gênero não é biológico, e sim uma construção social. Homens e mulheres podem ser bons ou maus governantes.
Porém, “devido à forma como somos socializados, é mais aceitável que as mulheres sejam líderes mais empáticas e colaborativas. E infelizmente há mais homens que se enquadram na categoria narcisista e hipercompetitiva”, afirma Rosie Campbell, diretora do Instituto Global para Liderança Feminina no King’s College London.
Trazer diversidade para ambientes decisórios impulsiona novas práticas que desafiam o status quo, o modo tradicional (branco, cis e masculino) de se fazer política. De acordo com Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, “quando uma mulher entra na política, muda a mulher. Quando muitas mulheres entram na política, muda a política”.
No Congresso brasileiro, por exemplo, as congressistas se unem em diversas pautas relacionadas a direitos das mulheres, independente de filiação partidária. Dentre as conquistas históricas do grupo, está a aprovação da Lei que aumenta a pena de quem comete feminicídio, em 2015. A chamada Bancada Feminina busca, além de defender um interesse comum, reivindicar um espaço que ainda é pequeno para as mulheres na política institucional. Em março de 2021, a Bancada Feminina foi formalmente reconhecida no Senado Federal, garantindo ao grupo toda a estrutura e as prerrogativas oferecidas para os líderes dos partidos e blocos parlamentares como preferência para uso da palavra e orientar votações.
O estudo Eleitas: Mulheres na Política, do Instituto Update, também traz algumas dessas histórias sobre a potência das mulheres na política latino-americana e seus desafios. A publicação explica que, “para elas [mulheres], a prática [política] parte de uma relação contínua entre a cidadania e o poder público, que é capaz de combater o personalismo típico de uma política patriarcal e colonialista”.
Aqui na Elas No Poder, defendemos uma política que reflete o mundo como acreditamos: mais diverso e inclusivo. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, e é importante entender que as estruturas de poder não serão alteradas pelos mesmos rostos que as ocupam há séculos. Que tenhamos cada vez mais lideranças negras, indígenas, quilombolas, femininas, PCDs e LGBTQIA+ entre nossas referências e opções de voto.
Texto de Gabriela Beltrão. Cientista Política e pós graduanda em Assessoria Política, se interessa por gênero e meio ambiente. Busca contribuir na construção de uma sociedade mais justa e sustentável.
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