O negacionismo é predatório: sobre política, covid-19 e feminismo

O mal oculto do tsunami pandêmico que vivemos hoje é o negacionismo. Destruindo a democracia pelo caminho, o negacionista é agente da aniquilação da espécie humana.

Dandara Coêlho

coordenadora da Elas

11/03/2021

Política e Negacionismo: Mercadores da Dúvida Infiltrados nas Instituições Democráticas

Em suas diversas correntes, desde a alcunha do termo pela psicanálise, os negacionistas rejeitam a realidade de fatos e verdades básicas, empiricamente verificáveis ou com evidências maciças. É o caso dos que são terraplanistas, negam o aquecimento global ou o Holocausto (duvidando que este evento histórico tenha, de fato, acontecido), por exemplo. 

No Brasil, esse discurso atingiu larga escala da população com alguns posicionamentos pessoais do atual Chefe de Estado enquanto pessoa pública ao longo de sua carreira política. Também é intensificado pelos fenômenos de descrença nas instituições e políticas de governos nacionais anticientíficos, inclusive o desrespeito dos próprios políticos aos processos e instituições democráticas de seu país.

Governos como os de Bolsonaro e de Trump promoveram o descrédito das pessoas em relação à Ciência, à Justiça, e aos movimentos sociais, distanciando mais a população destas instituições. O negacionismo como método deste governo transfere a “autoridade simbólica das instituições para a autoridade pessoal de quem desafia”, segundo Christian Dunker.

Além de patrocinarem políticos negacionistas para espalharem falsas controvérsias, setores do mercado também usam de ferramentas como disseminação de teorias da conspiração, investimento em think tanks (em detrimento de universidades e centros legítimos de pesquisa científica) e formação de especialistas por manipulação de mídias alternativas.

A Luta pela Sobrevivência do Negacionista: Predatismo e Autoboicote

Em uma democracia cujos princípios “universais” são voltados a interesses particulares, de quem pode pagar, dissemina-se um discurso moral não da vida, mas da sobrevivência. Nessa falsa polarização, o negacionista busca legitimar algumas posições descabidas, como a de que, se podemos ser feministas, ele pode ser machista.

O negacionismo vira instrumento humano que fomenta a morte de outro da mesma espécie (mas visto de alguma forma pelo negacionista como sendo de espécie diferente). O predatismo do negacionista é também um autoboicote duplo, pois se dá a partir desse descrédito e descrença na sua própria espécie.

Em primeiro lugar, suas “dúvidas” representam falsa simetria na argumentação científica. Isto é, a oposição que oferecem a um fato não representa uma verdadeira antítese àquela. Assim, não há um diálogo construtivo que permita ao coletivo chegar a uma síntese mais desenvolvida do que a vigente, e assim, evoluir e garantir mais a sobrevivência do ser humano como espécie.

Em segundo lugar, a crise de confiança que o negacionista promove na Política e na Ciência a partir do uso oportunista da mentira ameaça a sua vida como indivíduo humano, que é parte do coletivo. A predação destrói o sistema complexo de cooperação entre indivíduos, o seu ecossistema.

Democracia Customizada do Negacionista: A Morte (da Espécie) Acima de Todos

O Brasil, que está sendo chamado globalmente de “laboratório de Covid-19”, tem esse demérito como consequência de um governo atual negacionista e irresponsável. O negacionismo é uma verdadeira predação do homem sobre o que ele vê como uma subespécie de homo sapiens, além de autoboicote. Ao negar comprovada eficácia de vacinas, o negacionista se reforça como agente da aniquilação da espécie humana.

É essa mesma ética predatória do negacionismo que abastece o machismo e suas estruturas. Nesta semana do #8M, ainda há discursos machistas que veem a mulher como subespécie, inferior, e que adotam uma ética da proteção heroica.

O efeito prático do negacionista, com suas conspirações e rejeições de verdades, é o de fulminar as chances de sobrevivência da própria espécie e também, enquanto parte da alcateia, a sua própria vida.

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