Qual a cor da democracia?

Josiara Diniz

voluntária da Elas

04/11/2021

A democracia, expandindo o conceito de sistema político, é um processo baseado na “soberania popular“. Observe que é soberania no sentido lato, amplo e incondicional. Abrange não só as regras do jogo político, mas também as condições sociais, culturais e econômicas no qual os sujeitos sociais serão, ou não, incluídos.

Mas no Brasil a soberania, e a própria democracia, têm seus “preferidos”. A teoria democrática não consegue lidar com as dívidas históricas herdadas por uma república de alguns. Sufrágio universal; inclusão cidadã; eleições diretas e livres; direitos fundamentais. São alguns dos, inegáveis, ganhos desde 1988. Mas, para além dos inegáveis ganhos políticos, qual a cara (cor) da democracia brasileira?

Democracia no Brasil

Pense em um país: onde 75% dos assassinatos são cometidos contra pessoas negras. Em que 75,4% das pessoas mortas em intervenções policiais são negras (com uma porcentagem grande de crianças). Onde 51,7% dos policiais assassinados são negros (enquanto eles representam só 34% do efetivo).  Em que ser negro faz com que você tenha 2,7% mais chance de ser assassinado (em comparação com uma pessoa não negra).

Onde as mulheres negras são as que mais morrem de forma violenta (66%), são mais vítimas de feminicídio (61%) e sofrem mais assédio (40,5%). No país em que mesmo os negros representando 54,9% da população total, só teve 4% eleitos ou eleitas para cargos legislativos na última eleição.

Então, diga-me, qual é a cor da democracia desse país? Para quem e por quem a soberania estatal é exercida? Quem, de fato, exerce soberania em um país onde, dos seus 520 anos de existência, 349 anos foram de escravidão negra legal, institucional e socialmente aceita?

Para além dos conceitos acadêmicos, democracia é prática.  Nesse sentido, custo acreditar que a prática democrática é plena em uma país onde ainda somos divididos em pele alva e pele alvo.

Não existe debate sobre democracia, sem que haja um debate anterior sobre racismo. Antes de sermos democráticos, já éramos racistas. Os mesmos que gritaram independência, mantinham mão de obra escrava negra em suas casas. Não se pode unir pela democracia uma sociedade separada pelo racismo estrutural.

Além de ser branca, a democracia brasileira é quase. Quase completa, quase verdade, quase de todos. Enquanto houver racismo, não haverá plena democracia.

 

Texto de Josiara Diniz. 27 anos, cientista política e assessora de orçamento do Senador Alessandro Vieira. Apaixonada por cultura pop, corrida e afropolítica, administra a página @pretapolítica1 no instagram.

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