Onde estão as mulheres nos espaços de poder?

Cenário de mulheres eleitas no Brasil e entrevista com a deputada federal Talíria Petrone (PSOL/RJ)

Laura Bonvini

voluntária da Elas

16/09/2020

Ao longo dos anos algumas iniciativas foram apresentadas com o objetivo de diminuir a disparidade de gênero dentro da esfera política, como a reserva de vagas para a participação de mulheres nos cargos proporcionais, o estabelecimento de cotas para candidaturas femininas e a destinação de 30% dos recursos do Fundo Partidário para o financiamento de campanhas de candidatas. Embora essas medidas tenham como objetivo ampliar a participação de mulheres na política, em nossa última edição pudemos observar que o interesse pela candidatura por parte das mulheres ainda enfrenta fortes entraves sociais.

Onde estão as mulheres nos espaços de poder?

O número de candidaturas femininas, tanto em nível nacional quanto em nível estadual e municipal, não ultrapassa 40% e quando estendemos a análise para o número de candidatas eleitas, este número fica ainda menor. Na Câmara dos Deputados, no pleito de 2018, as mulheres representaram 31,9% das candidaturas ao cargo. Todavia, dentre os eleitos ao cargo, apenas 15% eram mulheres. Neste mesmo ano, no âmbito estadual, embora correspondessem a 31,37% dos candidatos às Assembleias Legislativas, as mulheres se configuraram como 18,3% dos eleitos. Nas disputas às Câmaras Municipais, esta baixa proporção também se ratificou: nas eleições de 2016, 32,8% eram candidatas, enquanto, do universo de vereadores eleitos, apenas 13,5% eram mulheres.

Os dados apontam que mesmo correspondendo, nas três esferas legislativas, a cerca de 1/3 das candidaturas totais, a quantidade de mulheres que alçaram êxito nas eleições permanece em proporções baixas. A ausência incentivos extrainstitucionais, apoio partidário e principalmente o reconhecimento da esfera pública como um espaço da mulher, impactam de maneira significativa na eleição de candidatas. O infográfico abaixo demonstra o sutil aumento do percentual destas mulheres eleitas nos pleitos de 2014 e 2018 (Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas) e entre 2012 e 2016 (Câmaras Municipais):

 

Depoimento

Conversamos com a deputada federal Talíria Petrone (PSOL/RJ) sobre as dificuldades enfrentadas durante seu processo de candidatura, por ser uma mulher negra. De acordo com a deputada, “a nossa presença na política provoca grande incômodo naqueles que representam um presente baseado num passado colonial e escravocrata. E, com base nessa realidade, a nossa campanha não foi diferente.

Entre as dificuldades pelas quais passei, vale destacar o nosso primeiro dia de campanha, quando, junto com a minha equipe estávamos na barca indo de Niterói para o Rio, fomos vítimas de abuso policial. No momento em que eu e mais quatro companheiras íamos tirar uma selfie, segurando um panfleto, um policial militar nos abordou de forma extremamente violenta, batendo no meu telefone e dizendo que não podíamos fazer aquilo ali. Apreendeu nossos materiais, que carregávamos para panfletagem que faríamos na Praça XV.


Não temos dúvida que aquele foi um ato machista e racista das forças de segurança do Estado, que ainda não aceitam mulheres como eu disputando espaços na política.

Como mulher, negra, socialista e feminista, ter disputado uma vaga para a Câmara Federal, numa conjuntura em que o discurso conservador, racista, machista e misógino tem ganhado cada vez mais força, foi (e continua sendo) um desafio muito grande, o que mostra também o tamanho de nossa responsabilidade. Entramos na campanha com o compromisso de garantir um mandato a serviço da classe trabalhadora, das periferias, das mulheres, do povo negro, da população LGBT, dos povos indígenas e quilombolas e dos que historicamente são preteridos em suas pautas. E esse compromisso que segue dando hoje sustentação ao nosso enfrentamento cotidiano.”

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