voluntária da Elas
13/05/2021
A proposta de uma reforma tributária foi o estopim para os protestos sangrentos que temos acompanhado na Colômbia. Mas as origens desse descontentamento social perpassa décadas de violência e descaso com a população colombiana. Entenda alguns dos motivos que culminaram na situação atual.
A Colômbia vive um grande conflito armado há mais de 6 décadas, que tem como questão principal a disputa pela terra. De um lado, estão os grupos de guerrilha – que lutam pelo direito à terra aos trabalhadores e camponeses. Do outro, o narcotráfico, que depende de um terreno fértil para manter a fabricação de ilícitos.
Nós, brasileires, sabemos bem como uma Guerra às Drogas pode legitimar massacres e execuções arbitrárias. O povo colombiano sofre repressão vinda da Polícia Nacional nas cidades, enquanto o Exército Nacional e os grupos paramilitares fazem esse mesmo trabalho no campo.
O resultado disso é o extermínio de uma parcela da população cubana. Os paramilitares são responsabilizados por movimentos populares pelas mortes de líderes sociais e defensores dos direitos humanos há anos. Já o governo de Iván Duque, atual presidente, que vence mobilizando um discurso anti guerrilhas, sinaliza o narcotráfico como principal gerador de violência no país.
Além disso, a economia colombiana teve em 2020 seu pior desempenho econômico em quase meio século e entra em recessão pela primeira vez desde 1999.
As questões sociais colocadas acima compõem um documento assinado em 2016 que, depois de quatro anos de diálogo, consegue contemplar as Forças Armadas Revolucionárias e o governo da Colômbia.
O acordo de mais de 300 páginas, no entanto, é desrespeitado sistematicamente desde sua assinatura. As iniciativas previstas no acordo para a substituição dos cultivos ilícitos, a reforma agrária integral e políticas de reparação para as vítimas do conflito armado não se cumpriram. Isso aumentou a desconfiança da população nas instituições do Estado Colombiano.
A proposta de reforma tributária foi apesentada ao Congresso no dia 15 de abril. Ela previa aumentar o imposto sobre serviços básicos e o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e reduzir a renda mínima para pagamento do imposto de renda.
Dado todo o contexto social do país, podemos compreender porque a proposta foi tão mal recebida pela população. As manifestações foram tantas e tão violentas, que, além da retirada do projeto, Alberto Carrasquilla, Ministro da Fazenda, pediu demissão.
Esse seria um final para a situação que se colocou na Colômbia, se não fosse o descumprimento do acordo de paz de 2016 e os acontecimentos de novembro de 2019. Na época, protestos foram fortemente reprimidos pela polícia, causando a morte de líderes indígenas e sociais, dentre outros cidadãos colombianos.
Os primeiros atos, que aconteceram no dia 28 de abril, resultaram em confronto, principalmente em Cali, que se tornou o epicentro do embate entre policiais, militares e manifestantes. Levantamentos de autoridades nacionais e da ONU falam em 19 mortos – entre eles um policial – e ao menos 800 feridos. Porém, nas redes sociais, mais números e outras denúncias vem à tona, como a de abuso sexual por parte de agentes policiais, detenções arbitrárias e pessoas desaparecidas.
A narrativa do governo é de que grupos rebeldes e extremistas teriam se infiltrado nos protestos para promover o caos, mas as imagens revelam violência excessiva por parte da polícia contra civis.
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