Mulheres quilombolas na política: resistência e desafios

Amanda de Oliveira

voluntária da Elas

18/02/2022

De acordo com dados da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) são mais de 6 mil comunidades quilombolas no Brasil.

Número bastante expressivo, porém as comunidades ainda enfrentam alguns desafios, como a violência, a insegurança em relação à titulação de seus territórios, o andamento das políticas públicas dentro das comunidades e tudo isso multiplicado por conta do cenário pandêmico.

Quilombolas no sistema político

Esses desafios também afetam a representação quilombola no cenário político, já que as candidaturas locais precisam de apoio não só da comunidade, mas também dos partidos.

Também é necessário que a sociedade busque conhecer as realidades desses territórios e que as organizações sociais estejam abertas a ouvir e ajudar nas demandas das comunidades.

Apesar de todos esses desafios, os quilombolas provaram nas eleições de 2020 que podem sim ter participação expressiva no sistema político. Foram mais de 80 quilombolas eleitos, entre os cargos de prefeito, vice e vereador e mais de 500 candidaturas em todo o país.

Esses números só provam que as comunidades quilombolas têm se fortalecido coletivamente e estão cada vez mais ocupando espaços.

E como fica o cenário político para as mulheres quilombolas?

Apesar dos avanços, as mulheres, de modo geral,ainda são sub-representadas na política e enfrentam mais desafios para se eleger. Essa discussão é aprofundada no texto Mulheres como potência de inovação política, aqui do blog.     

E, se esse cenário político já é difícil para as mulheres, de modo geral, para as quilombolas é ainda mais desafiador porque precisam dar conta de vários fatores. É o que mostra a entrevista com Nicinha Durans, do Quilombo Urbano Liberdade, no Maranhão. 

Nicinha foi duas vezes candidata à vereadora e nas eleições de 2018 foi candidata à vice-governadora. Ela disse que se candidatou porque sentiu a necessidade de ter uma representante mulher negra com um programa de raça e classe participando do cenário eleitoral. 

Ela enfrentou algumas dificuldades e acrescentou que só ser uma candidata quilombola não é suficiente:

‘’ Enfrentei muitas dificuldades. Primeiro pelo fato de ser de um partido pequeno, onde não tínhamos espaço nos programas eleitorais e nem nos debates, quer fosse das mídias locais ou mesmo das organizações feministas e do m0vimento negro para apresentar nosso programa […]’’

‘’ É importante ter representatividade, mas só ser uma candidatura quilombola não é suficiente. É preciso ter um programa voltado para resolver os problemas dos quilombolas e também que exija, de fato, que as políticas públicas específicas sejam implementadas […]’’

Nicinha nos alerta para várias questões, dentre elas a necessidade de ampliar o espaço midiático para falar sobre as propostas quilombolas, a importância de programas que priorizem as demandas dos quilombolas e também o papel dos partidos de colocar as questões quilombolas em suas pautas defendidas.         

Ela ainda falou das dificuldades que as mulheres vêm enfrentando ao se candidatarem: 

‘’ Mulheres enfrentam muitas dificuldades ao se candidatarem. A maioria dos partidos só aceitam as candidaturas femininas para cumprir o percentual exigido na legislação. Geralmente são candidaturas que não recebem apoio dos partidos e são tidas como ‘’laranjas’, isto é, para fortalecer outras candidaturas.’’

A potência da mulher quilombola

Cabe a nós, organizações, movimentos e sociedade não só incentivar, mas procurar maneiras de viabilizar a presença de mulheres quilombolas na política. Porque quanto mais mulheres eleitas, maior o impacto positivo na democracia do nosso país.

‘’Representações quilombolas femininas é garantia de que comunidades tradicionais e sua cultura terão visibilidade e seus direitos preservados.’’ Nicinha Durans

Ser quilombola é sinônimo de resistência, é denunciar situações de violência, é carregar uma história ancestral e trabalhar coletivamente para que as pessoas vivam com mais dignidade. Por isso, é importante que elas também façam parte do sistema político.         

 

Texto de Amanda Oliveira do time de comunicação da #Elasnopoder. Formada em ciências sociais. Integrante do Instituto Saber Amar. Gosta dos estudos de desenvolvimento pessoal, curiosa das terapias holísticas. Ama cachorro e praticar Kemetic Yoga.   

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