voluntária da Elas
12/08/2021
Margarida Maria Alves nasceu em 1933 em Alagoa Grande, na Paraíba, e foi uma sindicalista e liderança do campo. Trabalhadora rural desde cedo, Margarida começou seu trabalho de base junto às trabalhadoras e trabalhadores e se tornou uma das primeiras mulheres a assumir um cargo de direção sindical.
Ela e suas companheiras e companheiros de luta reivindicavam para que todas e todos tivessem carteira assinada, melhores salários, direito à greve, jornada de trabalho mais justa, etc. Muitas ações trabalhistas foram parar na justiça do trabalho, quando ela estava à frente da direção sindical de Alagoa Grande.
Em 12 de agosto de 1983, Margarida foi assassinada na frente de sua casa, gerando comoção local e nacional.
Sua morte serviu de força e inspiração para que muitas mulheres do campo e da floresta se juntassem e criassem uma ampla ação estratégica, a Marcha das Margaridas. Essa ação é uma forma de homenageá-la e acontece sempre no dia 12 de agosto, ou próximo a essa data.
Além disso, a data também ficou definida como o Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo pela Reforma Agrária. A Marcha é uma forma de relembrar as contribuições de Margarida para a vida das trabalhadoras e trabalhadores do campo e inspirar novas lutas e conquistas.
‘’ É impossível […] se conquistar algo nesse país que não seja de forma articulada’’. (Rosa Costa, integrante do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu.)
Margarida não só inspirou trabalhadoras, movimentos, organizações e coletivos, como também deixou um legado que, desde 2000, vem revelando uma grande capacidade de mobilização e organização por parte das mulheres do campo e da floresta.
Muitas organizações e movimentos já participaram de várias edições da Marcha das Margaridas, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) que promove a ação, o Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR), a União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNICAFES), a Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), o Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), etc. Ou seja, há uma grande articulação para que as pautas e reivindicações das mulheres do campo, da floresta e das águas sejam cumpridas, de fato.
Rosenilde Gregória dos Santos Costa (mais conhecida como Rosa) faz parte do MIQCB e após participar de várias edições da Marcha das Margaridas, percebe a importância dessa ação entre mulheres. Para ela, “a marcha das margaridas é um movimento de mulheres, é um espaço de poder e reivindicação. E as mulheres quebradeiras de coco nas diversas florestas participarem, é muito importante. Por ser uma marcha nacional, essa passa a ser ainda mais importante. (Ter as mulheres quebradeiras de coco na Marcha é importante) por a gente acreditar que é impossível fazer algo, se conquistar algo nesse país que não seja de forma articulada com essa diversidade de povos da floresta que nós somos’’.
Rosa sabe da importância que é essa articulação conjunta e reconhece a dimensão que a Marcha das Margaridas alcança. Ela lembra que participou de quase todas as edições juntamente com suas companheiras quebradeiras de coco, indo a plenárias, acompanhando algumas comissões de negociação, comparecendo às caminhadas de ato, em mesas de discussão junto a outros movimentos, a oficinas apresentando experiências e, em algumas edições, junto à coordenação da Marcha das Margaridas.
Essa ação estratégica em homenagem à Margarida Alves integra as trabalhadoras do campo, da floresta e das águas, dá uma dimensão nacional às suas demandas e esse encontro propicia a troca de experiências entre as mulheres. Rosa também destaca o fato de que cada movimento tem também suas próprias demandas, “porque nós somos mulheres da floresta, mas mulheres quebradeiras de coco, que tem uma especificidade’’.
Os movimentos do campo e da floresta seguem enfrentando inúmeras dificuldades em seus territórios, como obstáculos de acesso às políticas públicas, de alcançar direitos trabalhistas, de conseguir existir sem ameaças às suas próprias vidas. Mas, como diz Rosa, “continuamos existindo, continuamos na luta’’. Assim como Margarida Alves é lembrada e motivo de inspiração, as pautas, os desafios e conquistas dos movimentos de mulheres não cairá na invisibilidade.
Historicamente, a sociedade tratou as mulheres como se elas não pudessem ter autonomia e nem capacidade de se emanciparem e se organizarem. Hoje, já sabemos que essas opiniões são completamente equivocadas e que as mulheres estão se articulando cada vez mais para superar os desafios e ir em busca de conquistar seus direitos, sabendo que isso é disputar espaços de poder.
É necessário que a sociedade contribua cada vez mais para que as mulheres sejam respeitadas e não violentadas, reconhecidas e não invisibilizadas, apoiadas e não desmotivadas. As mulheres do campo, da floresta e das águas contam com o nosso apoio nessa diversidade de lutas.
A morte de Margarida Alves fez viver um movimento de mulheres potentes em busca de seus direitos e isso não tem como ser apagado.
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