Kamala Harris e os bons ventos de sua vitória nas eleições de 2020

A representatividade e perfil políticos da nova vice-presidenta dos Estados Unidos sopram bons ventos não somente em seu país, como também nos lados de cá, para as gerações atuais da sociedade brasileira, e para aquelas que vêm.

Dandara Coêlho

coordenadora da Elas

19/11/2020

O potencial da representatividade política múltipla e interseccional de Kamala

Ao assumir a vice-presidência de seu país, Kamala se torna a primeira mulher, além de a primeira pessoa negra no referido cargo, assim como a primeira indiana-americana, asiático-americana, e a primeira formada em uma universidade historicamente voltada para pessoas negras a fazê-lo.

A vice-presidenta identifica-se e é identificada como uma grande representante política dos cidadãos marginalizados, dos grupos tradicionalmente excluídos do poder, dentre eles, mulheres, afrodescendentes e imigrantes. Ainda assim, durante sua carreira e sua campanha eleitoral, não faltaram críticas a alguns de seus posicionamentos políticos. A sua omissão em relação à luta pela extinção da pena de morte naquele país é um ponto particularmente problemático em seu currículo.

A despeito disso, Ângela Davis menciona que “é uma abordagem feminista estar apta a trabalhar contradições e a conviver com elas.”, o que sinaliza talvez uma maior abertura, tanto da população americana quanto da própria Kamala, a um diálogo construtivo e quiçá resolutivo sobre tais contradições e problemas complexos que estarão envolvidos em sua gestão.

A figura política de Kamala, de representatividades múltiplas e interseccionais, lhe confere um poder imaginativo de narrar novas realidades e uma capacidade estética de ser criativa ao fazer política. Resta aos cidadãos atentar para os limites dessa representatividade, para que esta não se converta, por exemplo, em identitarismo.

Outras características de sua persona política que sopram otimismos ao futuro

Ao longo de um discurso da vitória que ressaltou que a construção de um país se dá por várias mãos e gerações, Kamala parece reunir traços importantes de uma boa gestora, uma boa representante política e uma boa cidadã.

Uma boa representante política porque honra a memória de seu país, respeitando e reconhecendo todos os ancestrais e antepassados que construíram a história e a cultura de tudo o que representa os Estados Unidos.

Tece agradecimentos particulares a sua mãe, imigrante indiana no país, e às “gerações de mulheres negras [coluna vertebral, segundo ela, daquela democracia], asiáticas, brancas, latinas e nativas que, ao longo da história, pavimentaram o caminho”. Com isso, também preconiza um olhar mais atento às questões de classe, gêneros e raça que constroem o presente histórico do país.

Uma boa cidadã porque se preocupa em deixar um futuro melhor para as novas e futuras gerações, focando parte de seu discurso às crianças de todos os países, para sonharem com ambição, liderarem com convicção, e verem a si mesmos de maneiras que os outros não os veem. 

Uma boa gestora porque parece compreender as contradições que deverá absorver a fim de “curar a alma da nação estadunidense”, reconstruindo a economia ao mesmo tempo em que elimina pela raiz o racismo sistêmico no sistema judicial e na sociedade dos EUA.

Democracia Intergeracional: Sua influência na disputa presidencial brasileira de 2022

A democracia é imaginada e construída constantemente ao longo de várias e inúmeras gerações. Com Kamala, reconhecemos a importância de se votar em uma presidência que respeite a memória de nosso país, que gerencie servindo de bom exemplo aos seus representados, mas que governe pensando em abrir os caminhos àqueles que ainda vêm.

Se assim o fizer, a maestria que promete ter ao lidar com o passado e o futuro de seu país pode reduzir a margem que se dá a discursos extremistas de candidatos à presidência brasileiros.

Que assim seja. Tomemos nota para 2022.

 

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