Banda Gatunas: entoando os direitos das mulheres

Amanda de Oliveira

voluntária da Elas

09/06/2022

A Banda GatunasBanda Gatunas surgiu na Paraíba em 2017 e foi idealizada por Jonas Escurinho.

As músicas da banda incitam os direitos das mulheres, os retrocessos desses direitos, a forma como são tratadas em sociedade e também as suas conquistas.

Composta por duas mulheres na voz, Ruanna Gonçalves e Morgana Gabriely, a banda usa a música para passar sua mensagem de vitórias, indignações e o que querem para o futuro. 

Promover toda essa discussão pela via da música, principalmente no atual contexto em que estamos vivendo, com muitas violações dos direitos das mulheres, é muito louvável.

A música nos faz refletir de uma maneira criativa e, muitas vezes, nos dá clareza das situações, por conta da abordagem mais lúdica, porém, sem perder a importância das discussões que ela traz. 

Por isso, esse artigo vai tratar de alguns trechos importantes da obra dessa banda para pensarmos os desafios, resistências e lutas femininas.   

Respeito aos corpos das mulheres

Não finja que não me ouviu  

Tira as mãos de cima dela

e vê se me escuta  

Ela não é um objeto, pra tu tocar,

roubar, usar, forçar, romper,

dilacerar e não discuta

É na música “Até quando’’ que a banda Gatunas fala sobre a objetificação dos corpos das mulheres e de como elas vão sendo colocadas em um lugar de culpabilidade para justificar atitudes injustificáveis dos homens.

Abusos, críticas ao seu modo de ser e de se vestir, medo e uma sensação de que é proibido simplesmente ser.

Como consequência, esses sentimentos acabam causando tristeza, sensação de impotência e de falta de auto-permissão de serem elas mesmas, o que vai minando a capacidade de sonhar, não só para realizar coisas em um futuro próximo, como também a capacidade de conceber dias melhores agora.

Seria cômico, se não fosse trágico, como por muito tempo e ainda hoje as mulheres se sentirem culpadas por coisas que não foram elas que criaram ou não são elas que fazem.

Despejam essa culpa nas mulheres, principalmente quando se fala em abusos dos corpos femininos.

Colocam a culpa na roupa, na forma de falar, de se portar, nas atitudes.

Porém, esquecem do real culpado, o patriarcado.

Como a vítima pode também ser algoz?

Essa música faz a gente pensar num padrão da nossa sociedade que não tem nada de lógico.

 

Banda Gatunas canta sobre a liberdade 

Na música “Quebrada’’, a banda Gatunas traz um ponto de vista sobre o que é ser livre e também de como, ainda hoje e nas coisas mais comuns a qualquer ser humano como dançar e se relacionar, é exigida uma performance aceitável das mulheres, um limite de como podem se portar, uma visão esperada e estereotipada de suas ações.

Essa música é o retrato da insatisfação a todo esse movimento que há séculos podam a potência feminina.

Danço com quem eu quiser 

Saio quando eu quiser

Nem vá pensando que eu sou tua só porque eu sou mulher

Danço com que eu quiser

Saio quando eu quiser

Nem vá pensando que eu sou tua só porque eu sou mulher

Beijo quem quiser

Homem e Mulher

“Se cuida, se cuida, se cuida, seu machista. A América latina vai ser toda feminista.’’

Em “Ode ao Bozo’’, a banda incita uma reflexão sobre o contexto do governo atual e de tudo que este vem defendendo ou ignorando em suas pautas políticas.

No que diz respeito às mulheres, o discurso predominante é o lugar da mulher numa posição de fragilidade. A banda coloca “Mulher pra ele é frágil, serve à família submissa’’.

Já no final da música, a banda coloca o que as mulheres realmente querem, como querem ser tratadas e qual o tipo de governo que são contra.

A letra é o exato oposto à posição de fragilidade que a mulher é colocada no contexto atual, do ponto de vista da banda.

A gente quer autonomia e não ser silenciada

A gente é luta e resistência a governo autoritário

A esperança do renascer

Por fim, a música “Anônima’’ traz uma reflexão para o que é, para a realidade, que muitas vezes é de luta, de silenciamento, de controle dos corpos das mulheres, mas que também é de resistência e que, apesar de tudo isso, elas renascem:

Ah, eu renasço todo dia

Colorida, transformada, em silêncio, mas amada

Condenada pelo medo de ser

Ah, eu renasço todo dia

Transformada, censurada, mas amada

Por ser       

O som mais fúnebre do violoncelo, principalmente no início, nos lembra que ainda há muito a ser superado para que as mulheres possam existir, de fato, em todos os espaços.

Mas, apesar desse contexto, dia após dia, elas têm a capacidade de renascer, ir à luta, buscar a transformação do que a elas é desfavorável e, em algum momento, simplesmente, ser quem elas querem ser, plenamente, abundantemente.

 

Texto de Amanda Oliveira. Ela é coordenadora do blog da #Elasnopoder, licenciada em Ciências Sociais, graduanda em Antropologia e cofundadora do Instituto Saber Amar. Gosta de doguinhos e de praticar Kemetic Yoga.

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