voluntária da Elas
12/05/2022
Vamos propor um exercício simples: imagine um CEO. É um homem ou uma mulher? Tenho quase certeza que, antes de qualquer viés, a maioria esmagadora imaginou um homem.
Isso não acontece por acaso. No Brasil, apenas 16% dos cargos de diretoria de empresas e 19% dos de gerência são ocupados por mulheres, de acordo com uma pesquisa da BR Rating.
O machismo se opõe à igualdade de direitos entre os gêneros, favorecendo o gênero masculino em detrimento ao feminino. Em suas mais diversas formas de opressão, no ambiente corporativo não é diferente.
Dados de uma pesquisa do IBGE mostram que as mulheres receberam 77,7% do salário dos homens em 2019.
Nos cargos de diretores e gerentes, a diferença é ainda mais elevada: as mulheres ganharam apenas 61,9% do rendimento dos homens.
Segundo uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, 40% das mulheres já sofreram assédio moral e sexual no escritório, contra 13% deles.
O relatório também revelou a percepção dos envolvidos, sendo que 92% consideram o acontecimento mais recorrente para o sexo feminino.
O machismo tem caráter estrutural e seus efeitos ditam como são os relacionamentos, seja no âmbito pessoal ou público.
Infelizmente, no ambiente corporativo não é diferente.
Algumas ações acontecem com mais frequência e é preciso estarmos atentos para combatê-las:
Como a empresa pode ajudar a combater o machismo no ambiente profissional?
Algumas atitudes podem colaborar para um ambiente corporativo mais igualitário, além do discurso “para inglês ver”.
Mesmo não sendo uma missão fácil, juntos podemos direcionar nossos esforços para torná-la possível.
A seguir, alguns exemplos de como isso pode ser colocado em prática.
Políticas de igualdade de gênero só acontecem de forma efetiva quando envolvem o coletivo. Reflita sobre a equidade de gênero como promoção do bem-estar organizacional e conscientize líderes.
Abrir diálogo e conscientizá-las sobre como agir em caso de machismo é uma boa ideia para conter o preconceito dentro da organização. Sem falar que essa estratégia reflete também na forma como as colaboradoras irão se sentir dentro da empresa, promovendo a autoconfiança das mesmas. Outra boa prática é estabelecer políticas claras sobre assédio e suas penalidades.
Já vimos que as pesquisas sobre a diferença salarial entre homens e mulheres mostram números discrepantes e já passamos da hora de mudar esse quadro. Afinal, cargos iguais devem ser remunerados igualmente a seus ocupantes.
É comum que algumas áreas sejam majoritariamente formadas por homens (um caso clássico é o mercado da tecnologia). Para promover a igualdade de gênero, entrevistar o mesmo número de candidatas mulheres e de homens para uma vaga garante que a equipe tenha diversidade.
O primeiro passo é incluir mulheres entre os selecionadores. Ou seja, devemos incluir pessoas que possam ver mulheres candidatas a cargos como “culturalmente adequadas”.
Candidatas com filhos têm 44% menos chances de serem contratadas do que mulheres sem filhos com qualificações semelhantes, além de sofrer com um controle mais rígido sobre sua pontualidade. Oferecer horário flexível e maior autonomia, ou outras formas que valorizem o trabalho entregue, podem de fato tornar a equipe mais produtiva.
Segundo uma pesquisa da FGV, metade das mães que voltam da licença-maternidade saem do mercado de trabalho em até 24 meses após seu retorno, normalmente por decisão do empregador. O que vemos após a estabilidade garantida por lei é um cenário em que as mães não conseguem manter seu emprego e enfrentam o desafio de procurar uma nova oportunidade com 44% menos chances que mulheres sem filhos, como já citamos anteriormente.
A criação dos filhos é dever de ambas as partes. Perguntar para uma mulher questões como “quem vai cuidar do seu filho enquanto trabalha?” ou “quem está cuidando dele agora?” só reforçam a ideia machista de que o cuidado da prole é exclusivo da mulher, além de não fazer diferença na avaliação de competências da candidata. Ao invés disso, pergunte apenas o essencial na entrevista e ofereça auxílio-creche como benefício, independente do gênero do futuro talento contratado.
Para combater esse tipo de comportamento, quando uma mulher for interrompida em uma conversa, interrompa o interruptor de uma maneira elegante, mas firme: “Rafaela estava falando. Deixe que ela conclua o pensamento dela.”
As ideias das mulheres não são ouvidas – a menos que sejam repetidas por um homem, que fica com o crédito. A sugestão é usar uma dica das mulheres da administração Obama e amplificar o que outra falou, repetindo a ideia e assegurando de que ela receba o devido crédito e reconhecimento. Mulheres têm que ser propagandistas umas das outras; devem falar sobre as realizações de outras e elogiá-las.
Pesquisadores descobriram que os homens são mais respeitados que as mulheres – até quando ocupam exatamente o mesmo cargo. A solução é se manter vigilante contra desconsiderações; ajuste a sua conduta.
São comportamentos rotineiros: você encontra um casal e pergunta ao homem como está o trabalho e ignora a mulher; você escuta o que um homem fala em uma reunião, mas confere o celular quando uma mulher começa a falar, etc. Esse é um menosprezo comum, segundo apontam os pesquisadores.
Para criar um ambiente de trabalho mais justo e igualitário comece ouvindo as mulheres e criando uma rede de apoio (e não de competição) entre elas.
Se estiver pensando nos resultados, aqui vai mais um argumento para pensar a respeito: De acordo com a Central Mulheres, base de dados criada pela curadoria de conhecimento Inesplorato em parceria com a Avon, a evolução do preço das ações de empresas com mulheres em cargos altos foi em média 26% melhor do que as exclusivamente masculinas.
E você, como acha que podemos criar um ambiente de trabalho mais justo e igualitário?
Texto de Carina Lima, especialista em marketing e comunicação. Colaboradora do blog da #Elasnopoder. Feminista de nascença, sonha em dar a volta ao mundo.
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